abril 28, 2025

O crescimento exponencial da economia digital, impulsionado pelo avanço da inteligência artificial, computação em nuvem, streaming e IoT, tem provocado uma verdadeira revolução no setor de data centers no Brasil e no mundo. Essas estruturas, verdadeiros corações pulsantes da internet, apresentam desafios construtivos únicos que demandam soluções inovadoras da engenharia civil e da arquitetura contemporânea.

O que são data centers e por que estão em expansão?

Data centers são instalações físicas utilizadas para abrigar sistemas computacionais críticos e componentes associados, como sistemas de telecomunicações e armazenamento. Seu crescimento acelerado está diretamente relacionado à digitalização da sociedade e à demanda crescente por processamento e armazenamento de dados.

No Brasil, o mercado de data centers deve crescer a uma taxa média anual de 13,5% até 2027, segundo dados da Associação Brasileira de Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom). Esse boom se deve a fatores como:

  • Adoção acelerada de serviços em nuvem por empresas de todos os portes
  • Expansão de plataformas de streaming e conteúdo digital
  • Implementação de tecnologias 5G e Internet das Coisas
  • Crescimento da demanda por infraestrutura para inteligência artificial
  • Maior necessidade de redundância e segurança de dados

Especificidades construtivas dos data centers

A construção de data centers envolve desafios técnicos significativamente diferentes daqueles encontrados em edificações convencionais. Carlos Mendes, engenheiro especializado em infraestrutura crítica, explica: “Um data center não é apenas um prédio com muitos computadores. É uma infraestrutura complexa que precisa garantir disponibilidade ininterrupta, eficiência energética, segurança física e digital, além de flexibilidade para expansões futuras.”

Principais exigências construtivas

  1. Robustez estrutural: Necessidade de pisos elevados capazes de suportar cargas concentradas superiores a 1.200 kg/m², muito acima dos padrões de edifícios comerciais convencionais.
  2. Sistema elétrico redundante: Infraestrutura elétrica com múltiplos níveis de redundância e sistemas ininterruptos de energia (UPS) que garantem o funcionamento contínuo mesmo em caso de falha da rede pública.
  3. Refrigeração de alta performance: Sistemas avançados de climatização que mantêm temperatura e umidade rigorosamente controladas, essenciais para o funcionamento adequado dos equipamentos eletrônicos.
  4. Segurança física avançada: Múltiplas camadas de proteção, incluindo barreiras perimetrais, controle de acesso biométrico, monitoramento 24/7 e sistemas anti-incêndio específicos para ambientes tecnológicos.
  5. Sustentabilidade: Crescente demanda por soluções que reduzam o consumo energético e o impacto ambiental dessas estruturas.

Tendências construtivas em data centers

Modularização e escalabilidade

A construção modular tem se destacado como tendência dominante no setor. “Data centers modulares permitem que as empresas iniciem com uma infraestrutura menor e expandam conforme necessário, otimizando investimentos e acelerando o tempo de implantação”, afirma Patrícia Oliveira, arquiteta especializada em infraestrutura tecnológica.

Essa abordagem reduz o tempo de construção em até 30% e permite uma escalabilidade precisa conforme a demanda, além de facilitar upgrades tecnológicos sem grandes intervenções estruturais.

Eficiência energética

O alto consumo energético representa um dos maiores desafios do setor. Um data center de porte médio pode consumir o equivalente a milhares de residências. Por isso, soluções construtivas voltadas à eficiência energética tornaram-se prioritárias:

  • Sistemas de refrigeração por free cooling, que utilizam o ar externo para refrigeração quando as condições climáticas são favoráveis
  • Corredores quentes e frios para otimização da circulação de ar
  • Implementação de sistemas de recuperação de calor residual
  • Uso de materiais isolantes de alta performance nas envoltórias
  • Automação predial inteligente para otimização do consumo

Localização e distribuição geográfica

A tendência de edge computing (computação de borda) tem levado à construção de data centers menores e mais distribuídos geograficamente, em contraposição aos gigantescos complexos centralizados. Isso impacta diretamente as estratégias construtivas, demandando projetos mais adaptáveis a diferentes contextos urbanos e regiões.

“Estamos vendo um aumento significativo de data centers de menor porte em cidades médias brasileiras, o que exige adaptação de projetos às condições locais de infraestrutura urbana, clima e disponibilidade de recursos”, explica Roberto Almeida, consultor em infraestrutura digital.

Desafios e soluções na construção de data centers

Consumo de água

Tradicionalmente, sistemas de refrigeração de data centers consomem volumes significativos de água. Para enfrentar esse desafio, novas tecnologias estão sendo implementadas:

  • Sistemas de recirculação e tratamento de água
  • Utilização de água de reúso
  • Tecnologias de refrigeração a ar com baixo ou zero consumo de água
  • Sistemas híbridos que alternam entre refrigeração a água e a ar conforme a demanda e condições ambientais

Prazo de execução

A velocidade da economia digital exige prazos de construção cada vez mais agressivos. As soluções incluem:

  • Pré-fabricação de componentes estruturais e sistemas
  • Utilização de BIM (Building Information Modeling) para otimização de processos
  • Construção simultânea de diferentes módulos
  • Equipes dedicadas trabalhando em múltiplos turnos

Certificações e conformidades

Data centers modernos precisam atender a rigorosas normas e certificações:

  • Uptime Institute (Tier I a IV): classificação de disponibilidade e redundância
  • LEED: certificação de sustentabilidade ambiental
  • ANSI/TIA-942: padrões de infraestrutura para data centers
  • ISO 27001: gestão de segurança da informação

“A conformidade com estas certificações não é apenas uma questão de marketing, mas de garantia de qualidade e confiabilidade da infraestrutura, impactando diretamente as decisões construtivas desde as fases iniciais do projeto”, destaca Fernando Castro, consultor em certificações para data centers.

O mercado brasileiro de data centers

O Brasil tem se consolidado como um dos principais mercados de data centers na América Latina, com investimentos previstos de US$ 9,5 bilhões até 2027, segundo a Frost & Sullivan. Grandes players globais como AWS, Microsoft, Google e Equinix já estabeleceram presença no país e continuam expandindo suas operações.

Fatores que impulsionam o mercado brasileiro:

  • Posição estratégica para atender a América Latina
  • Marco Civil da Internet e LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados)
  • Crescimento do e-commerce e serviços financeiros digitais
  • Expansão da economia digital pós-pandemia

No entanto, desafios específicos do contexto nacional incluem:

  • Custo elevado da energia elétrica
  • Infraestrutura urbana deficiente em algumas regiões
  • Escassez de mão de obra especializada para construção e operação
  • Complexidade tributária para importação de equipamentos especializados

Sustentabilidade como imperativo

A pegada ambiental dos data centers tornou-se uma preocupação central para o setor. Globalmente, essas instalações são responsáveis por aproximadamente 1% do consumo de eletricidade mundial, com projeções de aumento significativo nos próximos anos.

Soluções construtivas sustentáveis incluem:

  • Utilização de energias renováveis, com instalação de usinas solares dedicadas
  • Sistemas de refrigeração com baixo impacto ambiental
  • Construções com certificação LEED e outras certificações ambientais
  • Reaproveitamento de calor para aquecimento de ambientes adjacentes
  • Utilização de materiais de construção com baixa pegada de carbono

“O futuro dos data centers está intrinsecamente ligado à sua capacidade de operar com eficiência energética e baixo impacto ambiental. Isso não é apenas uma questão de responsabilidade social, mas de viabilidade econômica em um cenário de custos crescentes de energia e recursos naturais”, analisa Renata Campos, especialista em construções sustentáveis para infraestrutura tecnológica.

Conclusão

O boom da infraestrutura digital representa tanto uma oportunidade quanto um desafio para o setor de construção civil. A demanda crescente por data centers requer profissionais e empresas capazes de dominar as especificidades técnicas dessas estruturas críticas, aliando robustez, segurança, eficiência e sustentabilidade.

Para construtoras, incorporadoras e projetistas, este segmento oferece perspectivas promissoras de crescimento e inovação. No entanto, exige expertise especializada e capacidade de integração de múltiplas disciplinas – da engenharia estrutural aos sistemas mecânicos, da segurança física à eficiência energética.

O futuro aponta para data centers cada vez mais eficientes, modulares, sustentáveis e distribuídos geograficamente, consolidando-se como infraestruturas essenciais para a economia digital em rápida expansão.